Caminhando de Goiânia a Rússia: um intercâmbio sem gastar uma fortuna!
- Maxmilliano Reis
- 11 de jun. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 20 de ago. de 2024

Me lembro como se fosse hoje, era um sábado à tarde do ano 2009, voltava para casa após assistir a uma palestra na Secretaria de Juventude Do Estado Goiás, fazia parte do programa de concessão de bolsas de estudo em graduação da Organização dos Voluntários de Goiás (OVG), que todos aqueles que tinha obtido a bolsa deveria retornar o investimento de alguma forma a sociedade.
Em meu caso, cabia comparecer as palestras promovidas pela Secretaria de Juventude com o objetivo de preparar jovens para atuar na sociedade de uma forma mais cidadã, participativa e colaborativa.
Nesse dia, caminhava na avenida principal do Setor Sul, sentido ao Eixo Anhanguera (corredor de ônibus) acompanhado de um amigo, para tomar a condução em direção a minha casa, estávamos falando sobre o que faríamos no futuro e comentei com ele sobre meu desejo de fazer um intercâmbio logo após a faculdade.
Cursava administração e, queria ter uma experiência internacional no currículo para me diferenciar no mercado e, é claro vivenciar a experiência, que deveria ser incrível.
Ao mesmo tempo que compartilhei meu desejo em fazer essa viagem, também falei da minha frustração e quase impossibilidade de realizar uma programa assim, pois já tinha vasculhado a internet, procurando por intercâmbios e todos eram muito caros, na época os orçamentos estavam entre R$15 a R$25 mil reais.
Meu salário era baixo e, demoraria muito tempo (anos) para conseguir juntar a quantia necessária. Me sentia frustrado e chateado por ver meu sonho tão distante.
1. Descobrindo a AIESEC
Foi aí que o Felipe me disse: “Max, você já ouviu falar da AIESEC?”, como era a primeira vez que ouvia aquela palavra, notoriamente disse “não”. Nos minutos a seguintes, Felipe se pôs a me explicar o que era a AIESEC e como ela fomentava intercâmbios para pessoas como eu, que tinha muito vontade e determinação para fazer o intercâmbio, mas com o aspecto financeiro era limitado.
Quando finalmente entendi que poderia realizar meu sonho com uma quantia que poderia pagar, bastante inferior àquelas que tinha visto na internet, e ainda participar de uma organização tão interessante e dinâmica, me animei tremendamente e comecei a pesquisar mais sobre as opções de intercâmbio da AIESEC.
2. Escolhendo o intercâmbio ideal
Havia diversos programas, com destinos diferentes. Fiz minha inscrição e, em conjunto com a equipe da AIESEC Goiânia, começamos a fazer uma busca por intercâmbios em Administração e Economia, que eram minhas áreas de interesse. Por fim, encontramos 4 opções de intercâmbios muito similares, nos países: China, Rússia, Tailândia e Turquia. Achei o máximo poder me candidatar para tantas opções.
Finalmente o programa que mais se adequou as minhas ambições era o BRIC economic Project, seria um período de 3 meses em que os participantes, iriam preparar palestras sobre a economia dos países emergentes e apresentar em universidades e escolas públicas da Rússia, na cidade se Samara. Era uma forma de beneficiar o país que nos receberia e, nós ganharíamos moradia e orientação quanto ao idioma e cultura da Rússia.
Passar pelo processo seletivo foi difícil, pois tive que fazer provas e entrevistas em inglês e, aquela era a primeira vez que usava o inglês em um ambiente internacional, fiz os testes com receio e medo, até que por fim, fui aceito no programa BRIC economic Project.
3. Planejando o Intercâmbio
Chegada a hora de se organizar. As únicas coisas que eu precisaria pagar seriam a passagem aérea e minhas despesas pessoais. Bem, foi nesse momento que tive alguns contratempos. Não esperava que a passagem fosse tão cara e que todo meu dinheiro da poupança seria utilizado para isso!
Próximo a data de embarque tinha pouca dinheiro pra levar comigo, bem pouco mesmo, algo em torno de R$600 reais. Para passar 3 meses? Não era o suficiente! Passei por dias de intensa preocupação sem saber, o que fazer!
Meus pais poderiam me ajudar? Infelizmente eles não tinham economias suficientes para ceder uma parcela para minha “viagem”.
Outro ponto me deixava angustiado, para passar 3 meses no intercâmbio precisaria de uma licença na empresa que eu trabalhava, na época a Ernst & Young. Fiz o pedido ao RH e a minha gestora direta, no primeiro momento a resposta não foi, necessariamente positiva, mas ficaram de avaliar mais detalhadamente e dar uma resposta definitiva. Fiquei aflito pensando que talvez eles não iriam me liberar.
4. Superando obstáculos
Foram semanas de muita ansiedade, não sabia se teria o dinheiro para me sustentar e não sabia se a empresa iria me liberar, pensava: “se arrumar o dinheiro e, a empresa não me liberar?” a única solução seria pedir demissão, mas ao mesmo tempo, outras perguntas me chegavam à mente: “será que compensa pedir demissão, por conta de um intercâmbio?”
Sinceramente, me via preso, sem nada a fazer, a não ser esperar!
Algumas semanas depois, recebi a notícia da minha chefe que a empresa iria me liberar (que alegria), agora só me restava conseguir o restante do dinheiro para poder fazer a viagem, na época as opções de empréstimo bancário eram caríssimas, teria que pagar o triplo do capital original.
Não tinha o hábito de pedir dinheiro emprestado para minha família, mas resolvi conversar com alguns tios sobre essa possibilidade, eu expus para eles o quão importante e benéfico seria um intercâmbio para minha carreira.
Vendo meu espírito determinado na busca por conhecimento e confiando na minha capacidade de retornar o capital, meu tio Zé emprestou o valor que eu precisava. A partir daí foi só alegria. Em um bolso eu tinha o capital e no outro tinha a dívida, mas também tinha uma experiência internacional para viver: É a vida, precisamos tomar riscos e fazer escolhas e, naquele momento decidi assumir os riscos em busca dos benefícios.
É a vida, precisamos tomar riscos e fazer escolhas e, naquele momento decidi assumir os riscos em busca dos benefícios.
5. O grande dia chegou: partiu Rússia!
O grande dia chegou e em outubro de 2010 eu finalmente embarcava para uma série de acontecimentos inusitados, começando que era a primeira vez que eu iria para fora do Brasil e, pisava em terras estrangeiras. Chegando na Rússia, caminhar pelas ruas era um desafio pois toda hora eu caia, por conta do gelo. Falar russo então, nem se fala, era muito difícil.
Os 3 meses se passaram muito rápido, aprendi a andar de ônibus e taxi em Samara, aprendi várias palavras em Russo, fiz amigos de todas as partes do mundo e, claro festei bastante.
Participei de encontros enriquecedores com os demais intercambistas.
Se eu pudesse dizer o que mais ficou marcado em mim desta experiência foi o fato de perceber que o mundo é um só, que nós somos uma única família, independente do país que nos encontramos.
"o mundo é um só, que nós somos uma única família, independente do país que nos encontramos."
Meus amigos Russos ou não, partilhavam das mesmas dificuldades, sentimentos e esperanças que eu. Nossa conexão era genuína e, gostávamos de fazer coisas parecidas. Percebi que eu poderia ir mais longe, poderia conhecer outras culturas, lugares e linguagens. Estar em um ambiente multicultural como aquele me fazia perceber a vida de um jeito diferente, amplo e mais simples ao mesmo tempo.
6. De volta a Goiânia
Em meu retorno para Goiânia, tinha muitas histórias para contar, mas ao mesmo tempo havia muito o que SENTIR, percebia o mundo ao meu redor como uma grande estrada, onde tudo o que você precisa fazer é caminhar por ela, estava ao mesmo tempo mais presente e mais sonhador do que nunca, queria mais, ir mais longe e, de fato fui, mas esta parte deixo para o próximo texto.
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