Experiência no AgroGalaxy: o que aprendi entre safra, M&A e a maratona de um IPO
- Maxmilliano Reis
- 27 de out. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de ago.

Quando cheguei ao AgroGalaxy, percebi que finanças no agro tem um pulso próprio. Existe o calendário do mercado — e existe o calendário da safra. Você faz conta, projeta, organiza um plano… e a chuva resolve ter opinião. Ali eu aprendi a diferença entre mandar no número e cuidar do número.
Coordenei localmente a preparação para o IPO na B3 (jul/2021), numa captação de R$ 330 milhões. No dia a dia, meu escopo ia de FP&A (orçamento, forecast e reporting) a M&A (aquisições, integrações, data room), com o trabalho de traduzir a operação — lojas, estoque, crédito, logística — para uma narrativa que fizesse sentido para diretoria, conselho e, mais tarde, para o mercado.
Três cenas da minha experiência no AgroGalaxy que ficaram comigo
1) Orçamento não mora no Excel. No ciclo de budget, todo mundo “sabe” a meta. Mas quando o preço do fertilizante mexe, o que conta é ouvir o campo. Lembro de uma manhã ajustando premissas com gente de vendas e de compras na mesma mesa: volume, prazo médio, política de crédito. A planilha não queria aceitar; a realidade, sim. Saí dali com um orçamento menos “bonito” e mais verdadeiro — e foi o que salvou o nosso forecast quando o vento mudou.
2) Due diligence com data marcada. M&A não espera humor. Tem checklist, IC/DD, prazos curtos e muita informação espalhada. O que funcionou não foi “força bruta”, foi ritmo: donos claros, quadro simples do que falta, bridge contábil↔gerencial para explicar números que não “fechavam” à primeira vista, e data room vivo. Quando a conversa é honesta, o problema aparece cedo — e dá tempo de resolver.
3) O silêncio do pré-IPO. Antes do IPO, existe um tipo de silêncio específico: aquele em que cada número é medido três vezes. Não é performance por vaidade; é confiança. Eu nunca esqueci a cara das pessoas quando o pacote de report bateu no prazo e na qualidade: era cansaço, sim — mas também alívio. É dessa sensação que eu falo quando digo “número certo dá paz de espírito”.
O que o AgroGalaxy me ensinou (e que founders reconhecem)
Clareza antes de perfeição. Primeiro, a verdade do número; depois, o polimento.
Rito > promessa. D+ só existe quando há responsável, insumo e agenda — todo mês.
BvA sem autoengano. A variação não é “erro”: é história esperando explicação e dono do plano de ação.
Bridge contábil↔gerencial. Duas lentes olhando a mesma coisa; se elas não conversam, a decisão fica cega.
Capital de giro é oxigênio. Estoque, prazos e crédito respiram juntos; quando trava em um, falta ar no outro.
Explicar é parte do trabalho. Se não dá para colocar no quadro branco, ainda não está claro.
Bastidores que não aparecem no release
Gente cansa. E tudo bem dizer “hoje não dá”. O que não dá é quebrar a combinação.
Nem toda divergência é conflito. Às vezes é só idioma diferente entre áreas. Traduzir é tão útil quanto reconciliar.
O plano vive de fronteiras. O que está dentro do escopo? Quem decide quando muda? Escrever isso salva mês.
Narrativa sincera poupa energia. “Vai dar diferença” dito cedo, com respeito, salva noites.
O que levo comigo sempre que penso em crescimento
Calendário de safra (metafórico) existe em toda empresa: seus ciclos de alta e baixa. Ignorar isso nas metas é pedir frustração.
Forecast é conversa contínua, não evento. Quanto mais cedo o sinal, menor o desvio lá na frente.
Integração dói menos com checklists simples, versões curtas de processos e treinos rápidos (antes de aumentar a velocidade).
Pessoas confiam em processo. Quando os ritos giram, a tensão cai e a execução aparece.
A experiência no AgroGalaxy me deu uma disciplina que não cabe num parágrafo, e uma calma que não aprende em slide. No agro, quem corre mais cedo nem sempre chega melhor — quem chega bem é quem respeita o tempo da terra, combina ritos e conta a verdade do número, mesmo quando ela não é a mais bonita.
No fim, é sobre isso: aprender um ritmo que sobreviva ao pico e à entressafra. E levar esse respeito pelos ciclos para qualquer conversa sobre crescimento.
Notas de contexto: Atuei como Coordenador de FP&A/M&A, com reporting mensal/trimestral, orçamento e forecast, suporte a aquisições e integração, e coordenação local na preparação do IPO na B3 em julho/2021 (captação de R$ 330 milhões).
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